“O melhor presente de Natal”

Posted: 18th Dezembro 2018 by admin in Divulgação
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Como manda a tradição, na última semana de aulas, o professor Abílio Santos, da Escola da Junqueira, leu para os nossos alunos e professores o conto de Michael Morpurgo, “O melhor presente de Natal”.

Publicamos este texto do professor Nuno Monteiro, que o partilhou connosco, depois de assistir à sua leitura; obrigada professor Abílio pela partilha! Obrigada professor Nuno, pelas palavras! Afinal, não será esta é a magia das palavras, dos livros e da própria literatura ?  

“Achei a ideia inquieta: afinal quem hoje se mantém fiel a uma promessa ao fim de onze anos? Na era da técnica e do momento voraz, foi incompreensível quando ouvi que a cada Natal o professor Abílio vinha contar o conto para uma plateia de alunos. Delirei ante a ausência de ruído quando me vi, já no dia, perante uma plateia tão pequena. Pude perceber que não havia ali qualquer intenção de enaltecer estudo, linha de Excel ou tramitação… era puro devoto. Ali fiquei. Devoto.

Eu já conhecia o Abílio o suficiente para intuir que foge dos palcos grandes para se concentrar nas pequenas causas perdidas. Está-lhe no sangue. Começou o conto. É um conto sobre o cúmulo que é ser-se Homem. Durante um par de horas, entre os horrores da “ terra de ninguém”, no inverno de 1914, na França lá ao norte, um punhado de gentes desafiou a vontade das chefias e foram brincar com o inimigo. Coisa simples de escrita com escrita simples e por enquanto ainda inédito em Portugal – descobri também que alguém, a professora Teresa, o havia traduzido por puro e (insensato) gozo. Também aí uma pequena grande curiosidade: estava a ouvir um conto dito em surdina num português bem cristalino dum livro que não existe.

A machadada levei-a quando no fim todo o sentido do texto me conduziu ao sentido da perda e à descoberta da comunhão sentida por quem, ao fim de tantos e tantos anos, outro desejo não tinha senão o de ver ( e quiçá palpar) uma outra vez o marido desaparecido.  Evitei com um levantar das ideias as lágrimas que já assomavam. Havia alunos por perto. (Um professor não pode dar parte de fraco. Um professor deve mostrar aos seus alunos que é forte e que é insensível.) Um conto contado salva amiúde a humanidade da própria humanidade.”